Uma vida normalíssima

Uma vida normalíssima

quarta-feira, 8 de janeiro de 2014

Vamos falar de coisas sérias.

Num post atrás, mencionei-vos o facto de ter ataques de pânico e de ansiedade e, como me venho a aperceber que muita gente os tem mas poucos sabem do que se trata, vou tentar explicar-vos. Vou já avisando que quem não sofre deste tipo de doença(pasmem-se, é uma doença), é bem capaz de achar que estou a ficar insana. Não se assustem... pelo menos não tanto quanto eu.

Há uns anos atrás, quando andava na Universidade, passei por uma fase muito má. Mais do que muito má. Do piorzinho que se pode passar. E eu, que nem sou pessoa para depressões ou alterações de humor, de repente dei por mim numa espiral de tristeza que, por mais que vos tentasse explicar, não iam conseguir entender. A verdade é que tinha motivos para estar triste, mas também não eram assim tão pesarosos ao ponto de me deixar na merda. Mas deixaram. Nunca tomei medicação... costumo dizer que os meus amigos foram a minha salvação e realmente foram. Deve ser por isso que até hoje os meus amigos se contam pelos dedos de uma mão, porque só tenho daqueles mesmo muito bons, que não sou capaz de ceder a ninguém. Mas à frente... Por essa altura eu já tinha fobia a transportes públicos. Fobia no verdadeiro sentido da palavra. Pavor. Eu não podia entrar em comboios ou autocarros que logo me sentia a suar, prestes a vomitar ou até mesmo a desmaiar. Imaginava 1001 cenários. Que estava sozinha. Que ia sofrer uma humilhação pública. Que não podia voltar para trás... Conclusão: tirei a carta o mais rápido possível e passei a ir de carro para a universidade... até lá só à boleia. E vocês perguntam-me: "Mas não te podia dar isso num carro também?". Podia, claro que podia. Mas o ataque de pânico começa por ser psicológico e o meu psicológico só tinha pavor a transportes públicos, não a carros. 

Quando saí da universidade, passei outro momento de stress brutal. Não tão preocupante como o anterior, mas ainda assim mau. E foi aí que a minha vida verdadeiramente começou a mudar. Comecei a ter crises de ansiedade no carro, no trânsito, quando estava sozinha. Dor no peito, dificuldade em respirar, pensei que morria. Dirigi-me ao hospital a pensar que a qualquer momento caía para ao lado e quando lá cheguei, nada. Não tinha nada. Electrocardiograma, Rx ao Tórax, tudo normal... à excepção do ritmo cardíaco que estava acelerado, mas que o médico disse que era por isso mesmo, por estar ansiosa. Foi aí que alguém me explicou pela 1ª vez o que era um ataque de pânico/ansiedade. Sugeriu que tomasse ansiolíticos e, possivelmente, caso não melhorasse, um anti-depressivo. Fraquinho, mas um anti-depressivo. Ora eu sou completamente aversa a qualquer tipo de medicação, portanto, não segui conselho nenhum, limitando-me a procurar na net formas de relaxamento. Apesar de ter resultado numa primeira fase, e conforme o médico me disse que ia acontecer, os ataques pioraram. Passaram a ser mais frequentes, quase diários. Na maior parte dos casos é mesmo isto que acontece. Ou somos tratados com medicação ou psicoterapia, por exemplo, ou então eles têm tendência a piorar. Cheguei a uma fase em que me deixei dominar totalmente por eles e em que o simples facto de dormir sozinha me assusta. Pode parecer uma grande paranóia, porque até é, mas apesar de o ataque ser despoletado psicologicamente, as sensações são físicas. São dolorosas e angustiantes. Muitas vezes cheguei ao desespero e pensei que só parava num hospício. Vou ser acompanhada a partir deste mês para acabar com esta coisa de uma vez por todas, que a vida não é isto, não pode ser isto e nós temos que vivê-la a cem por cento, sem grandes medos ou inquietações.

Falei deste assunto porque sei que não estou sozinha. São milhões as pessoas que sofrem de Agorafobia (é o nome do síndrome) e sei o quanto este problema nos pode fechar em copas. Ora a mim sempre me fez bem falar. Sempre me fez bem admitir. E uma das coisas que mais me ajuda é ler e ouvir testemunhos de alguém que passa pelo mesmo que eu. Portanto, se alguém se identificar com este post e quiser falar: umavidanormalissima@gmail.com

E agora vou virar o assado, que isto não é vida!

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